Faltam Corpos para estudos de Anatomia

sexta-feira, 9 de março de 2012

Instituições de ensino superior enfrentam
problemas para obter cadáveres



Franciele Cristina Vargas e
Eliz Soeira

Atualmente, universidade de todo o mundo enfrentam o desafio de encontrar fornecedores de corpos para que sirvam como objeto de estudo da anatomia humana. Os problemas envolvem desde a burocracia, restrições religiosas a receio de desrespeito aos mortos.
Em Curitiba, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) encaram as mesmas questões.
Na UFPR, aproximadamente 1.500 alunos estão matriculados em cursos envolvidos com essa área do conhecimento.
Segundo o professor de Anatomia do curso de Medicina da Instituição de Ensino Superior (IES), Sérgio Luiz
Rocha, o número de corpos é insuficiente. “O ideal seria que houvesse um para cada nove alunos, mas a realidade é bem diferente”, observa.
Apesar de a Lei 8.501/92 determinar que corpos de pessoas que morreram de causas naturais não reclamados em trinta dias podem ser destinados a ensino e pesquisa, a universidade não é beneficiada.
Atualmente, a instituição pública recebe, em média, um corpo por ano. Segundo o técnico em Anatomia e Necropsia da UFPR, Rodrigo Schuch, são as famílias que não têm condições de sepultar seus entes que doam os corpos. No caso de corpos não reclamados, a burocracia limita a utilização – a decomposição é mais rápida do que a lei.
O diretor-geral do IML do Paraná, Porcídio Vilani, confirma as dificuldades. Ele esclarece que, em virtude de
irregularidades administrativas anteriores, há dez anos a instituição não repassa corpos às IES. Ele garante que o processo será retomado em breve, atendendo aos requisitos legais.
A universidade aconselha seus alunos a utilizarem programas de computador de anatomia.
No entanto, como os softwares são caros, seu uso é restrito. Uma solução é utilizar órgãos artificiais. “Nada,
porém, substitui o corpo humano. Só com ele o futuro médico pode aprender em profundidade”, observa Rocha.
Segundo o professor, nem sempre a universidade sofreu com o problema. “Nos anos oitenta, a quantidade era suficiente.” Ele acredita que a redução também tenha relação com o medo que as pessoas têm de os corpos sofrerem desrespeito.

Gestão – Na PUC-PR, não há dificuldades. Quem garante é o professor titular de Cardiologia da instituição, Emilton Lima Júnior. Segundo ele, a disponibilidade é de um cadáver
para cada seis ou nove alunos. A proporção é alcançada graças à gestão dos recursos e à substituição por peças artificiais, feita gradualmente. “Isto acontece, essencialmente, por respeito aos doadores.”
O aspecto religioso também
está envolvido. “Após um período de serviço à ciência, a universidade realiza uma cerimônia na qual os alunos podem participar. O objetivo é humanizar o trabalho.” Lima Júnior ressalta a importância de aliar criatividade à tecnologia para incentivar a prática médica dos alunos mais novos. A PUCPR está construindo um laboratório com cinema em 3D, o que possibilitará aos acadêmicos visualizar o corpo humano em detalhes. As inovações, porém, não eliminam a técnica anterior. “Devemos ter o retrovisor como referência, mas buscar a direção através do para-brisa”, finaliza Lima Júnior.

Lei cria comissão para resolver questão

A lei estadual Nº 15.471/ 07 autorizou o Poder Executivo a instituir um “Conselho Estadual de Distribuição de Cadáveres”. A proposta visa facilitar a pesquisa, com a distribuição desburocratizada de corpos não identificados, não reclamados ou doados. A coordenação do Conselho faz parte da Secretaria de Ensino Superior,Ciência e Tecnologia.
Seu presidente, o médico e professor José Geraldo Calomeno, ressalta o valor das doações. “O sentido original da palavra ‘cadáver’ é ‘carne dada aos vermes’.
Quem doa supera essa ideia: além de contribuir para a sociedade, preserva o corpo por mais tempo.” Além disso, a família pode reavê-lo quando desejar. (FCV)

Com formol, tecido parece com borracha

Tão logo o cadáver é liberado para as instituições de ensino superior, tem início seu preparo. O primeiro passo, explica o professor Sérgio Luiz Rocha, é injetar formol para evitar a putrefação e a perda de consistência. Em seguida, o corpo é encaminhado para um tanque de formol para fixação dos tecidos.
Depois desse procedimento adquire uma textura semelhante à da borracha e pode ser utilizado pelos estudantes de cursos como Medicina, Odontologia, Enfermagem, Nutrição e Educação Física.
O estudo de Anatomia é a base de disciplinas práticas em quase todas as graduações das Ciências Biológicas.
(FCV)

 
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